Se o sono e os comportamentos que influenciam o ciclo circadiano são difíceis de serem modulados e geridos para melhorar a qualidade de vida, isso também interfere na saúde reprodutiva
Muitos hábitos interferem na saúde reprodutiva e muitas vezes algumas pacientes estranham quando o médico pergunta: Como está o seu relógio biológico? “Essa pergunta é fundamental em um processo para tentar engravidar. A qualidade do sono sempre deve ser avaliada, na medida em que esse é um hábito de vida muito importante para aumentar as chances de gravidez”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, médico especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da Clínica Mater Prime. “A verdade é que, se o sono e os comportamentos que influenciam no ciclo circadiano são difíceis de serem modulados e geridos para melhorar a qualidade de vida, isso tende a interferir no sistema reprodutor”, acrescenta.
A explicação para isso parte do funcionamento da hipófise, glândula presente no cérebro que é responsável pela produção de uma série de hormônios, inclusive daqueles responsáveis pela estimulação dos ovários e dos testículos. “Quando o período de repouso é curto ou de pouca qualidade e isso ocorre de maneira contínua, essa glândula não funciona da maneira como deveria, o que, consequentemente, interfere na fertilidade”, diz o médico.
Além disso, o especialista comenta que a melatonina, um hormônio que regula o ciclo sono-vigília, tem uma função antioxidante importante para os ovários. “Quando há algum distúrbio em sua produção, justamente por não existir um respeito com o ciclo circadiano fisiológico, há um prejuízo em todo o funcionamento hormonal ovariano”, esclarece o Dr. Rodrigo Rosa. A perturbação desse ciclo, por exemplo, por conta de trabalhos noturnos já foi investigada por alguns estudos, segundo o médico. “Mulheres que têm trabalhos noturnos tendem a ter uma reserva ovariana abaixo das mulheres que possuem um sono reparador em período noturno (das 22h às 6h), em comparação com pessoas na mesma idade”, explica.
O especialista diz que o mecanismo é extremamente complexo, mas todos os hormônios estão interligados entre si: “Uma disfunção da melatonina aumenta o cortisol, que é o hormônio do estresse. Isso propicia um descontrole na produção do FSH e do LH, hormônios produzidos pela hipófise que regulam o ciclo menstrual feminino, e, com isso, elas podem ter mais ciclos sem ovulação, o que chamamos de ciclos anovulatórios”, comenta.
O estresse é outro vilão que pode bagunçar os hormônios sexuais. “Altos níveis de estresse podem tornar as chances de um casal engravidar menores. Isso porque o estresse também favorece o surgimento de proteínas inflamatórias que prejudicam a qualidade do esperma”, diz o médico.
Melhorar a qualidade do sono e mudar hábitos para controlar o estresse podem ser lutas difíceis, mas vale a pena resistir. “Busque realizar uma atividade física que você goste. Quando seu corpo gasta energia, fica mais fácil regular o sono e diminuir o estresse. Além disso, tente uma alimentação mais saudável, evite gorduras excessivas principalmente à noite. Os descansos de fim de semana com atividades prazerosas também são bem-vindos. Desconectar do mundo online ajuda e pode ser um caminho para melhorar a qualidade de vida e do sono”, finaliza o Dr. Rodrigo.
FONTE: *DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa
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