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Antônia Frering
Foto: Divulgação

Em depoimento a Morgana Bressani

Que mulher nunca achou um cisto sebáceo no seio e não era nada demais? Minha família não tinha histórico de câncer, então por que me preocupar? Esse é o pensamento clássico das pessoas em negação.

Tudo o que aconteceu no dia que fui diagnosticada com câncer de mama vai ficar na minha memória. O oncologista disse: “Você vai esquecer tudo o que vou falar menos uma coisa: você tem câncer, mas ele é curável.”

Novembro de 2012

Estava sentada na recepção ao lado do meu marido Guilherme, que estava mais preocupado do que eu. “Tudo bem. Mês que vem vou para Índia e resolvo assim que voltar”, falei para ele. Mas o inesperado aconteceu e era um tumor maligno e agressivo. Não fui claro. Só posso agradecer pelos privilégios que me levaram a uma intervenção rápida, já que no Brasil os grandes problemas são a dificuldade de acesso e a demora no tratamento.

Na semana seguinte, passei por minha primeira sessão de quimioterapia na esperança que o tumor regredisse. O começo de uma jornada de sete quimios, seguidas de cirurgia para retirada do tumor e radioterapia. Naquele dia tracei uma meta: em oito meses estaria gravando a novela “Salve Jorge” (Globo). Hoje sei como isso foi importante no processo de cura. Não foquei no problema. É preciso ter isso em mente: a vida segue, o cabelo cresce e o mais importante é que você vai ficar bem e tem que pensar no futuro.

Antônia Frering
Foto: Divulgação

Fé e otimismo

Estaria mentindo se dissesse que sempre fui otimista. Mas, mesmo nos dias mais difíceis, contei com algo inabalável: a fé. Sou devota de Santa Terezinha e pedia para minha santa e Nossa Senhora que me protegessem. Cantava rogando por elas.

Quando a medicação começou a afetar meu corpo sabia qual seria o próximo passo e garanto que não foi fácil me despedir do longo cabelo que sempre tive apreço. Na primeira vez que fui ao cabeleireiro não senti muito porque precisei ajudar minha filha Maria Teresa, que tinha 20 anos. Ela ficou no meu colo, enquanto eu secava suas lágrimas e dizia que ficaria tudo bem. Não estava, mas quando você é mãe e ouve a filha soluçar de medo precisa ser forte.

No temido momento de raspar a cabeça, Maria estava ao meu lado novamente, ficamos trancadas no banheiro chorando. A tarefa de cortar ficou para Leni, minha fisioterapeuta. A fragilidade veio mais tarde, quando meu marido voltou do trabalho e me viu de turbante. Foi doloroso, mas entendi que a vaidade e a imagem não são relevantes. O importante foi o amor e o apoio que recebi daquelas pessoas. Guilherme era a razão e resolvia todas as questões. Já Maria era o carinho. Era ela que me acompanhava nas quimioterapias e só se deitava comigo abraçada na cama. Mas não era “só”, era tudo aquilo. O abraço de minha filha era a força que precisava.

Cada um sente a doença de forma diferente e está tudo bem contar para todos à sua volta, assim como a escolha que fiz de não falar para ninguém fora do meu círculo íntimo. Isso não quer dizer que você deva passar por isso sozinha. O cuidado, a preocupação e carinho da família são essenciais nesse processo. Não tenha vergonha de pedir ajuda. Confia, entrega, aceita e agradece.

Foto: Divulgação

A cirurgia

Só pensei na força que minha família me dava quando entrei no centro cirúrgico. Eu não tinha cílios, cabelo e saúde. Por fora, me sentia uma formiga. Mas a verdade é que por dentro eu era um leão cheio de poder, já que estava viva e sabia que ficaria bem. Sempre acreditei.

Enquanto relembro aqueles dias, uma das memórias mais poderosas e felizes que tenho volta à minha mente: havia terminado o tratamento com radioterapia na sexta-feira quando eu finalmente pisei no Projac para gravar a novela e pensei: “Acabou! Adeus, câncer”. Cada quimio e radioterapia tinham sido uma vitória, a cirurgia outra, mas aquela era a conquista final. Conto minha história para que saiba: não deixe de ir ao médico e fazer o autoexame.

“Não deixe de acreditar. É preciso ser otimista. Você vai ficar boa, seu cabelo vai crescer. Isso vai passar. Não tenha medo!”

O alerta

Em novembro de 2021, completa 10 anos que descobri o câncer de mama. Assim como qualquer pessoa que foi considerada curada ou em remissão, faço consultas regulares com o oncologista. Mas, com medo do coronavírus não queria ir ao médico em 2020, mas ele insistiu e sou grata por isso. Descobri um novo tumor, desta vez no útero. Levei um segundo para entender o que estava acontecendo quando o médico disse que teria que tirar o órgão.

De novo tive a sorte de ser diagnosticada no início, e em janeiro deste ano já estava resolvido. É preciso entender que as pessoas também estão morrendo de doenças além da Covid-19 porque estão com receio de ir ao médico. No meu caso, talvez fosse tarde, e pode ser com você também.

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