Dezembro chegando em sua reta final e o espírito natalino tentando sobreviver em meio ao caos pandêmico pelo segundo ano consecutivo. Estamos em uma ausência de coletividade e generosidade profunda, o reflexo que temos mais nítido é talvez o cansaço e desejo ardente de querer sair por aí para festas, baladas e praias, afinal isso é merecido após mais um ano de pandemia, certo? Mas gostaria de dedicar essa coluna ao aniversariante da semana e o mais importante da história, Jesus Cristo. Trazer uma reflexão sobre essa figura que você acredite ou não, ele tem um impacto significativo no pensamento humano.
Jesus e o filósofo considerado pai da filosofia, Sócrates, tem mais em comum do que você imagina, além de não terem deixado nada escrito, seus seguidores posteriores utilizaram os seus ensinamentos para dominar e monopolizar “a verdade”. Além de serem exemplos práticos de humildade e virtude, ambos buscavam a mesma coisa: o Bem. E o que é mais natalino do que fazer o bem, ou minimamente, refletir sobre o que é o bem? Pois na edição especial da nossa coluna natalina vamos propor um exercício de reflexão sobre o BEM para Jesus e Sócrates.
O bem para os dois não é exatamente objeto direto e concreto, o bem é por excelência praticável o efeito da ação. Não conseguimos pensar numa forma de bem ou ainda num conceito de bem, tão pouco pegar ou materializar o conceito de bem em si. O bem é uma consequência, um efeito, a máxima da atitude. Ninguém atinge o bem senão antes por uma atitude, ou ao menos o planejamento da mesma. Para os gregos, a Eudaimonia, para Jesus, bem aventurança, caminhos que de certa forma são diferentes de como alcançar o bem, mas que levam ao mesmo. Sócrates defendia que o bem se atinge através do conhecimento e do autoconhecimento, somente refletindo sobre os desdobramentos de uma ação que se pode racionalizar e criar um juízo sobre a mesma, ou seja, pensar antes de agir e o porquê estar agindo assim é fundamental para se entender se a tal ação será boa ou não. Por outro lado, Jesus propõe a fé, não uma fé irracional e de total submissão a interpretações ao pé da letra de mandamentos de quase mil anos antes de seu nascimento, mas a fé no amor, a fé em si para que se reflita no próximo, e acima de tudo no amparo de Deus e na sua luz que guia.
Jesus tinha dois grandes mandamentos: Amar a Deus acima de todas as coisas, e amar o teu próximo como a ti mesmo. Destacamos a segunda, pois ela é a que mais se assemelha ao caminho do bem para Sócrates; em um primeiro momento temos que amar a nós mesmos, para que isso sirva como base fundamental para praticar com o próximo. Amar a si mesmo é um exercício de autoconhecimento muito elevado, assim como sugeria a filosofia socrática “conhece-te a ti mesmo”, esse exercício de amar a si mesmo envolve reconhecer seus limites, reconhecer sua ignorância, reconhecer seu pecado! A humildade é a base para o exercício de autorreflexão; humildade consigo mesmo. Em um segundo momento isso deve ser refletido externamente com o próximo, visando amar o próximo como a ti mesmo. Se você buscar refletir sobre o bem para si, consequentemente você refletirá sobre a sua ação, para que ela cause um bem para o seu próximo, tal qual a ti mesmo. A base continua a mesma: humildade. Estender isso para o exterior é visar o bem do próximo, é nortear suas atitudes com amor e humildade.
No final das contas, um foi condenado a morrer envenenado e o outro numa cruz, sob falsa acusação de uma população revoltada insinuando que estavam usurpando e corrompendo a sociedade, mesmo ambos só buscando o bem. Nem sempre o outro vai reconhecer o bem que se faz, mas o que torna genuíno a boa atitude não é a espera de uma resposta positiva da terceira pessoa, mas a pureza e principalmente, a consciência de quem a pratica.
(*Audino Vilão, filósofo, cursa História na universidade e é youtuber – no insta @audinovilao e no Youtube)