“Mãe, lê esse livro”. Foi assim, sem entrar em detalhes, que meu filho mais velho indicou a leitura de “Como Ser um Bom Ancestral” (Zahar, 2020), do filósofo australiano Roman Krznaric. Na época, ele estava morando em Tel Aviv, em um programa de intercâmbio, e a leitura foi um dos nossos pontos de conexão e troca. O tema ancestralidade sempre esteve no meu radar como especialista em tendências e inovação, mas eu não imaginava o quanto aquelas 325 páginas me provocariam.
Estamos sendo bons ancestrais? O que diríamos aos nossos tetranetos se, um dia, no futuro, eles nos perguntassem o que fizemos pelo mundo na época em que ainda havia tempo? Essas duas questões não são minhas, mas, respectivamente, do virologista Jonas Salk – o pai da vacina antipólio, que mudou a história da medicina – e do escritor e palestrante contemporâneo Drew Dellinger. Ambas estão na segunda página da obra de Krznaric. Ambas eu faço a você.
Futuro colonizado: ele não nos pertence
O tema legado, que inclui a figura do líder ativista, a atitude das companhias diante de temas centrais para a sociedade, a ideia de que marcas devem se posicionar em relação a causas que mudam o mundo representa uma quebra de paradigmas. Falo sobre isso, aliás, na palestra “Novos Paradigmas”, que apresentei recentemente a uma plateia de 150 CEOs, em um dos maiores eventos do setor executivo.
O fato é que Krznaric, que também assina o bestseller “O Poder da Empatia” (Zahar, 2014), vai além. Muito além. Ele parte do ponto de que estamos “colonizando o futuro”. Isso diz respeito às questões climáticas, à exploração dos recursos naturais, ao uso da tecnologia, às práticas sociais desumanas que, apesar de tantas boas iniciativas e de um real esforço na direção de uma agenda ESG, por ora ainda são toleradas.
No futuro colonizado, visualizamos a cena de nossos filhos, netos e bisnetos paralisados diante de um cenário em que nada poderá ser feito. “As gerações futuras não poderão sequer protestar, se defender, nem muito menos reverter um cenário. Por isso, a importância de sermos bons ancestrais”, diz o autor em um TED Talk sobre o tema.
Em meu artigo mais recente, publicado esta semana no LinkedIn da Spark:off, falo sobre o que Krznaric chama de “rebeldes do tempo” – pessoas que já estão lutando pelo compromisso com gerações futuras em ações práticas –, sobre as diferentes perspectivas dos pensamentos a curto e longo prazos na prática e sobre o quanto meu filho estava certo quando me indicou esta leitura.
Minha pequena contribuição ao mundo: cutucar grandes líderes e companhias, incentivá-los a fazer escolhas difíceis, a tocar em assuntos espinhosos e complexos. Em suma, fazendo meu trabalho de formiguinha aqui para ser a melhor ancestral que eu puder. E você, o que tem feito?