‘Fashionable Dogs’: A exposição que coloca os cães na passarela da moda

Foto: Divulgação

Em 1961, o mundo da moda ficou hipnotizado quando Audrey Hepburn e seu gato siamês conquistaram a tela em “Bonequinha de Luxo”. Mais de seis décadas depois da amizade entre a atriz e seu pet que ficou eternizada na telona, chegou a hora de os doguinhos virarem esse jogo. Aberta desde a última quinta-feira (7) no Museum of the Dog, o Museu do Cachorro do American Kennel Club (AKC) que fica no coração de Manhattan, em Nova York, a exposição “Fashionable Dogs” (“Cachorros na Moda”, em tradução livre) não apenas é “estrelada” pelo melhor amigo do homem como também é uma chance única de conferir uma abordagem inédita sobre os cães. Não por acaso, o Museu do Cachorro – reformado em 2019 ao custo de US$ 30 milhões (R$ 149,7 milhões), integralmente doados pelos sócios do AKC, todos membros da elite nova-iorquina – se tornou um dos locais mais frequentados por fashionistas na Big Apple, e assim deverá permanecer até 31 de dezembro, data do fechamento da mostra que entrelaça estilo e pedigree numa narrativa cativante. E isso em plena Semana de Moda de NY, o que diz muito.

Na verdade, o fascínio com o luxo e a elegância não se restringe apenas a nós, humanos. Desde tempos imemoriais, os cães têm sido muito mais do que nossos BFFs. Muito além disso, eles são a extensão das nossas aspirações mais luxuosas e grandiosas em relação ao afeto, mas de uma forma inconsciente. Passear com um greyhound em um dia de outono pela 5ª Avenida, por exemplo. Não é apenas o esbelto animal de estimação que é notado num outing assim, mas também seu tutor, que graças ao cão aparenta ser mais sofisticado – ao menos durante a caminhada.

Esse conceito se alinha com uma vertente de pesquisa em psicologia social conhecida como “teoria do olhar social”, que sugere que a forma como somos vistos pelos outros afeta nosso senso de identidade e autoestima. Muitas pessoas relatam que sentem um certo “orgulho” quando seus cachorros são admirados ou elogiados, o que, em consequência, as proporciona um efeito positivo recebido como um “afago” na autoestima. Principalmente as que veem seus animais como uma extensão de si mesmas ou até como membros da família, uma tendência que tem aumentado nos últimos anos.

Curador do Museu do Cachorro, Alan Fausel sublinha que a exposição não é sobre vestir cães com roupas e acessórios de grife, embora isso possa parecer a primeira impressão. A questão é mais profunda e muito mais interessante. “Essa exposição examina a influência mútua entre raças de cachorros e a sociedade da moda”, explica o gestor de acervo da instituição. E não se trata apenas de um fenômeno contemporâneo, dado que essa é uma conversa que vem sendo mantida por séculos, como a própria “Fashionable Dogs” deixa bem claro.

A exposição é contada através de uma mistura arrebatadora de meios: pinturas de retratos, fotografias de arquivo e artefatos históricos que fazem seu conteúdo parecer falar. Ao ver representações do borzoi, raça favorita das aristocracias russa e britânica no começo do século 20, ao lado de um dogue alemão, “queridinho” das câmeras na década de 1990, fica evidente a influência humana neles. Outro destaque é poodle, que teve seu auge nas décadas de 1950 e 1960 e permanece uma escolha icônica desde então.

Quem entra no Museu do Cachorro para conferir “Fashionable Dogs” pertence ao segmento da população que confia mais nos “serumaninhos” de quatro patas do que na própria espécie. Mas, uma vez que entram no clima da apresentação, surge uma dúvida: o que exatamente torna os cachorros “elegantes” aos olhos dos donos? Fausel tem uma resposta pronta: “Cães geralmente têm associação com uma figura notável, quem gosta deles costuma ser visto ou vista quase que automaticamente de maneira positiva.”

A exposição ganha ainda uma ressonância extra graças ao apoio do Conselho de Artes do Estado de Nova York. O bulldog francês, uma raça que por muitos anos passou despercebida, foi, em 2022, o cachorro de raça que mais gerou entradas oficiais no AKC, um dos maiores clubes de registro genealógico do mundo. O “renascimento” daquele que é um dos cães mais vistos no Instagram ilustra, portanto, o fluxo constante do que é considerado “em alta”, seja na moda ou na seleção canina das redes sociais.

A exposição é uma celebração de como a moda e a estética dos cachorros se interligam e, em muitos aspectos, se definem mutuamente através da história. E a maneira como ela desafia nossa percepção convencional de ambas, expandindo-a para incluir os seres de quatro patas que frequentemente compartilham nossas vidas e nosso espaço, é seu grande trunfo. No fim das contas, quem deixa o Museu do Cachorro depois de mergulhar em tal experiência sai ainda mais certo de que a tendência atemporal que transcende qualquer espécie é a do amor verdadeiro recíproco. E nesse quesito os cãezinhos sempre foram chiquérrimos.

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