Em sua música “Tudo Que Você Quiser”, Luan Santana canta esse título e eu me pergunto: que tipo de presente é esse, Luan? Se você já se casou e viveu o dilema de escolher seu sobrenome, esse artigo é para você. Se não se casou ainda, mas já pensou sobre o assunto, esse artigo é pra você. Se nunca pensou nisso e acha inquestionável uma mulher ganhar de presente o sobrenome do marido, esse artigo definitivamente é pra você também.
Imagine um grupo de WhatsApp com dezenas de mulheres interessantes, em que uma lança o tema do sobrenome. Daí em diante, mais de 60 histórias maravilhosas de companheirismo, de arrependimento, lições de vida e o culto ao casamento. Tudo junto e misturado, sem julgamentos ou tabus, do jeito que a gente gosta, me desperta a curiosidade sobre o assunto.
“Eu casei três vezes e troquei meu nome nas três”, “eu jamais pensei em trocar o meu, sou muito apegada”, “eu não sabia que daria tanto problema na hora de trocar todos os documentos”, “nunca tínhamos discutido esse tema e acabei cedendo na hora da cerimônia”… Assim como na amostragem desse grupo de mulheres, há muitos sentimentos e desconhecimentos cercando o tema.
Vamos começar com a história. No final do século XIX, adotar o sobrenome do marido virou moda entre a burguesia francesa e quase uma obrigação social. E a tradição ganhou o mundo e chegou aqui no Brasil, constando na lei (Código Civil/ 1916) que a mulher adotaria o sobrenome de família do marido e nunca o inverso. Assim seguimos, até o Estatuto da Mulher Casada que, em 1962, tornou facultativa a adoção do sobrenome do marido.
O novo Código Civil (de 2002), trouxe a novidade de que ambos os cônjuges podem adotar o sobrenome do outro. Ok, mas vamos aos fatos: grande parte das brasileiras acaba abrindo mão de um de seus sobrenomes e incorporando o sobrenome do marido, assim como vestem branco na cerimônia religiosa, para cultivar as tradições do casamento. Certo? Não digo ser certo ou errado, mas um fato.
“De acordo com o novo Código Civil, ambos os cônjuges podem adotar o sobrenome do outro. Mas grande parte das brasileiras acaba abrindo mão de um de seus sobrenomes e incorporando o do marido”
Eu não sou diferente dessas. Por mais feminista e atualizada, nunca me ocorreu que um marido pudesse adotar meu sobrenome ou que eu não adotaria o do primeiro ou do segundo (meu atual) maridos. Mesmo tendo vivido a perturbação burocrática de trocar meu RG, CPF, título eleitoral, CNH, passaporte e vistos duas vezes. Para mim, esse ato de assumir pública e oficialmente o nome era uma questão de cumplicidade e aposta na relação.
Depois da complicação de incluir no nome do meu filho mais velho o meu sobrenome por conta do divórcio, isso eu aprendi e fiz questão de que os outros dois filhos já fossem registrados com o meu. “Mãe, pra que você colocou seu sobrenome no meu nome depois de anos?” “Por três razões: pra você carregar esse legado adiante, pra eu viajar com você sem ficar provando o parentesco e porque eu posso!” Mas esse texto não é uma defesa de tese ou uma confissão provocativa.
Em um estudo de 2017, cerca de 70% das mulheres que se casaram com homens adotaram o sobrenome do marido. Cerca de 20% mantiveram seu nome de nascimento e 10% escolheram “uma terceira opção”, que vai desde combinar os sobrenomes, até legalmente adotar o sobrenome do marido, mas profissionalmente continuar usando o nome de nascimento. No Reino Unido, somente um em cada dez homens britânicos recém-casados decidiu adotar o sobrenome da esposa.
Quantos homens que você conhece adotaram o sobrenome da esposa e quantos acham que sua masculinidade é posta à prova com esse ato? No casamento mais comentado dos últimos dias, do filho de David e Victoria Beckham, noivo e noiva passaram a assinar como Peltz Beckham. Simples assim. Tendência? Ainda não sabemos.
“Por mais feminista e atualizada, nunca me ocorreu que um marido pudesse adotar meu sobrenome ou que eu não adotaria o do primeiro ou do segundo (meu atual) maridos”
Ainda na Inglaterra, no começo do reinado da Rainha Elizabeth, o protocolo real dizia que, para aqueles que fossem entrar na família e não possuíssem um título real, Windsor deveria ser o sobrenome. Totalmente contrário a isso, Philip se recusou a aceitar que seus filhos não levassem o nome de sua família. Em 1960, foi selado um acordo e todos os descendentes da linhagem que não tivessem títulos reais teriam Mountbatten-Windsor como sobrenome. Foi o que aconteceu com a duquesa de Sussex Meghan Markle, que passou a se chamar Meghan Mounbatten-Windsor, assim como seus filhos Archie e Lilibet.
Outra história que chama atenção é a do beatle John Lennon que, depois de se casar com a artista plástica Yoko Ono, na Espanha, em 1969, se tornou John Winston Ono Lennon. Dizem que a decisão foi pela cumplicidade do casal e para se chegar a um número de letras “o” que desse sorte a ambos.
Dez anos depois, em 1980, Demi Moore se casou com o músico Freddy Moore e adotou seu sobrenome. Após o divórcio, em 1985, ela manteve o Moore, mesmo tendo se casado, depois, com os atores Bruce Willis e Ashton Kutcher.
Apesar de muitas mulheres serem pressionadas pelos ex-maridos, na Justiça, a retirarem o sobrenome de casadas, segundo a Lei do Divórcio, criada em 1977, a mulher tem o direito de permanecer com o sobrenome do ex-marido, mesmo em casos de dissolução conjugal. Imagine uma mulher que adotou o nome do marido por anos e anos ter que retirar esse nome por imposição dele? Como disse minha mãe, que se divorciou depois de 40 anos, esse sobrenome já é meu também. Fato!
Aposto que você não tinha pensado haver tanto por trás desse tema… Nem eu! E você? Que história tem por trás do seu sobrenome?