Solidão online: aumento do uso das redes sociais é a causa ou o efeito de nos sentirmos tão sós?

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Enquanto você lê essa matéria em seu smartphone, talvez pense em compartilhar com seus contatos no Whatsaap, Facebook ou Instagram, mas ao abrir um dos aplicativos acaba se perdendo no mar de informações que seus muitos amigos virtuais compartilham diariamente e, alguns minutos depois de correr o dedo pela tela no vai-e-vem de nomes, fotos, mensagens e vídeos, já esqueceu da intenção inicial.

A internet tem dominado nossas vidas ao ponto de ser tornar um problema. Reuniões de trabalhos, consultas médicas, aulas, encontros com amigos por vídeo-chamadas, banco, mercado, cinema, farmácia… praticamente tudo em nossa vida pode ser, e tem sido cada vez mais feito de forma online. Estamos vivendo um aumento significativo da era digital em que a socialização é terceirizada para a internet. Ao mesmo tempo, nunca estivemos tão solitários e cientes dessa solidão como agora. Mas estamos mais sozinhos por que usamos mais as redes sociais ou usamos mais as redes sociais por que estamos mais sozinhos?

O relatório State Mobile 2022 apontou o Brasil no topo da lista entre as nações que mais utilizam aparelhos celulares no mundo. Com 5,4 horas diárias, os brasileiros lideram o ranking que inclui países conhecidos pelo desenvolvimento tecnológico como Coréia do Sul (5h), Japão (4,6h) e Estados Unidos (4,2h). O relatório aponta ainda que a pandemia de Covid-19 pode ter sido um fator agravante para este cenário, visto que, em 2019, a média era de 3,8 horas diárias. Representando um aumento de 1,6 horas e seguindo uma tendência mundial de aumento, já que no planeta, o uso de celulares cresceu em 30%. Os dados do relatório não apresentam grandes surpresas se analisada a condição psicossocial do Brasil, já que o estado constante de ansiedade em que vivemos faz com que as pessoas mergulhem em uma atmosfera negativa, possibilitando o aumento da busca pelas redes sociais no intuito de recompensa.

As redes sociais, por sua vez, por meio de ferramentas específicas como o ‘like’, ativam o sistema de recompensa do cérebro e, ao liberar o neurotransmissor dopamina, a sensação de ansiedade é aliviada, afirma o neurocientista Fabiano de Abreu: “O problema é que a dopamina é viciante e situações repetidas não liberam a mesma quantidade e a sensação de alívio não é a mesma com o tempo. Isso cria um ciclo vicioso que gera ainda mais ansiedade para a liberação de mais dopamina”, pontua.

O sentimento de solidão constante está diretamente ligado a essa ansiedade, já que esse sentimento generalizado tem relação com o virtual isso porque os laços que formamos através da internet não são, no final, os laços que nos unem. “Conviver e interagir são terapias comprovadas pela neurociência. A interação humana faz parte de todo este processo que está determinado em nosso DNA, faz parte de um conjunto de ações que nos fazem humanos”, explica ele.

Além disso, ainda não estamos 100% adaptados à era digital como imaginamos, já que para nos ajustarmos de forma evolutiva nosso organismo precisa de milhares de anos e mudanças repentinas trazem consequências, como problemas de saúde mental. Vale ficar atento para a mistura entre o virtual e o real para não perder a noção de realidade. “É como se você acabasse vivendo uma vida fora da realidade, o que aumenta o narcisismo e isso pode se tornar patológico e se transformar em um transtorno”, alerta.

Mas medir a solidão causada pelas redes sociais para cada um de nós não é trabalho fácil. Assim como elas foram – e ainda são – ferramenta importante para reduzir distâncias geográficas e aproximar diferentes ciclos sociais. Nosso momento atual como humanidade é de transição e, enquanto navegamos nesse mundo da era digital, é preciso ter em mente o que é real como um farol para nos guiar.

Lembre-se: ficar sozinho não é, necessariamente, estar só. Aproveitar a própria companhia pode ser necessário para o autoconhecimento.

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