Mangueira quer fazer história com desfile engajado e mais barato, mas sem perder a majestade

Fantasias do Carnaval 2018 da Mangueira || Créditos: Divulgação

Em 2018 a Mangueira comemora 90 anos na ativa. Para comemorar, a escola fundada por sambistas como Carlos Cachaça, Cartola e Zé Espinguela prepara Carnaval para fazer história, com desfile engajado e politizado porém sem perder o humor, nem a majestade, com o samba-enredo “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”.

O tema foi criado por Leandro Vieira, carnavalesco à frente da escola desde 2016, que disse ao Glamurama não ter encontrado nenhuma resistência por parte do comitê para aprová-lo. Ele se debruça nos efeitos da crise econômica do Rio de Janeiro sobre o Carnaval ao mesmo tempo em que resgata o espírito da era de ouro da folia, quando o dinheiro não era fundamental.

Fantasias produzidas com materiais alternativos como toalhas de mesa e banho, lençóis com estampas de flores miúdas, chita e adereços de casa como funil, escorredor de macarrão e porta-retrato serão inseridas no questionamento à respeito do que é o luxo e o que é fundamental no Carnaval. “Contamos uma história que não demanda muito dinheiro e investimento. Falo do banho de mar, da fantasia, de manifestações ligadas à brincadeira, ao carnaval de rua…”, conta o carnavalesco, que abre mão de volumes como costeiros e brilhos excessivos para que o folião tenha um papel maior na avenida do que apenas carregar a representação de algo e possa desfilar livremente e com mais liberdade. “Teremos um desfile com menos rigidez e mais mobilidade”, explica. ”

Fantasia Carnaval Mangueira 2018 || Créditos: Divulgação

Desde que assumiu a criação do figurino da escola, em 2016, aos 31 anos, Leandro vem trabalhando em cima de um perfil mais contemporâneo e engajado, e é agora, em 2018, que ele pretende fazer história. “Daqui há 50 ou 100 anos, penso que a Mangueira será lembrada pelo Carnaval 2018 como uma escola que se posicionou diante da situação do Rio de Janeiro naquele momento”, comenta o carnavalesco.

O carnavalesco da Mangueira Leandro Vieira || Créditos: Reprodução Facebook

Leandro chegou até a Mangueira depois de obter sucesso como carnavalesco da Caprichosos de Pilares, quando levantou a escola que estava cheia de dívidas, fazendo o melhor Carnaval de sua história recente, o de 2015, colocando-a em 7º lugar, três acima do seu anterior. Quando chegou à Mangueira para substituir Cid Carvalho, apesar dos problemas financeiros que a escola tem até hoje, conseguiu vencer o campeonato de 2016, seu primeiro ano à frente da direção criativa, com tema Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá. Na ocasião, a Verde e Rosa estava há 14 anos sem ser campeã e no ano anterior havia ficado em 10º lugar. Em 2017, a escola desfilou com o tema religiosidade brasileira mas ficou em 4º lugar por conta de uma falha em um de seus carros.

Carnaval da Mangueira de 2016, ano em que a escola ganhou em primeiro lugar com o tema Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá  || Créditos: Reprodução Rede Globo

NÚMEROS
O desfile de Carnaval 2018 da Mangueira inclui a criação de 200 figurinos diferentes, que totalizam cerca de quatro mil fantasias que vão cruzar a Sapucaí. Neste ano, as peças tiveram redução de 40% em seu valor final.

Fantasia Toque de Clarins da ala O Músico da Rua – Carnaval Mangueira 2018 || Créditos: Divulgação

CELEBRIDADES X PRATA DA CASA
A Mangueira é uma das raras escolas que mantém em destaque as mesmas celebridades há décadas. São elas Alcione, Leci Brandão, Rosemary e Nelson Sargento, “mangueirenses apaixonados que fazem parte da rotina da escola e sempre estiveram com a gente, na derrota e na vitória”, explica Leandro. “A Mangueira prioriza aqueles que contribuíram pra história da escola, não busca celebridades pra abrilhantar seu desfile”, completa ele, que confirmou a recusa frequente da atual gestão da escola por celebridades que querem até pagar para sair como destaque.

Este ano estarão no desfile da escola Leandra Leal,  Alexandre Pires, Jorge Aragão, Monarco e outros grandes sambistas. A rainha da bateria é Evelyn Bastos (foto abaixo) e suas grandes musas são mulheres nascidas e que vivem no morro, que saem do dia a dia da comunidade para brilhar na passarela do samba.

VERDE E ROSA
Sempre houve um estigma por trás da combinação verde e rosa da Mangueira, considerada “cafona” por muitos. E o maior desafio de todos os figurinistas que já passaram pela escola sempre harmonizar a combinação de cores, escolhida por Cartola. Neste ano, Leandro aposta em tons pastel, pontuando a cartela com pouca variação de contraste e uso de elementos prata em vez de dourado – estratégia para o Carnaval menos luxuoso da escola. “A ideia é ter nuances de verde e rosa mais apagados, como se fossem cores que ficaram guardadas e por isso se desgastaram”, explica Leandro.

A escola tem muita resistência à introdução de novos tons, já que é uma tradição honrar as cores de sua bandeira. A Mangueira foi a ultima a abrir mão disso, em 2016, quando o rosa foi combinado ao vermelho e ao azul.

Nesta sexta-feira acontece às 22h, no Palácio do Samba, o Ensaio Geral da Mangueira.

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