Dona de uma trajetória pra lá de sólida, Flávia Alessandra celebra 30 anos de televisão com mais uma protagonista – na novela das 7, ‘Salve-se Quem Puder’. Para J.P, a atriz relembra o início da carreira e mostra que continua em ótima fase
por carol sganzerla fotos maurício nahas styling rodrigo polack beleza jayme vasconcellos (capa mgt)
No ar desde o fim de janeiro em ‘Salve-se Quem Puder’, novela das 7 em que vive uma das protagonistas, a socialite Helena, Flávia Alessandra chega para a sessão de fotos da J.P esbanjando o sorriso que lhe é característico e cumprimentando cada um da equipe. Passar o dia no estúdio entre provas de roupa, maquiagem e ensaio não requer esforço dessa atriz que soma 30 anos só de televisão.
Ela topa o make, os looks, a pele à mostra e pede música para começar o ensaio. E o primeiro clique já basta para cativar – e parar – um estúdio inteiro. Flávia joga o corpo pra lá, pra cá, vem, vai, sugere ângulos, leva o braço para cima, perna lá no alto. Hipnotiza. Tem uma presença e tanto. “Cultuo meu corpo como um templo, procuro comer o que é bom, me exercitar, faço ioga, medito todos os dias. A maturidade faz com que consigamos encaixar no dia a dia o que realmente é importante e nos mostra as prioridades da vida”, diz, aos 45.
Há três décadas, ela fazia seu primeiro papel na TV, na memorável ‘Top Model’, uma das primeiras novelas a retratar as descobertas e os dramas da juventude, embalada pelo universo do surfe – quem foi adolescente entre o fim dos anos 1980 e início dos 1990 se lembra. Sucesso de audiência na época, o folhetim marcou não só uma geração, mas também a estreia da moça como atriz. Aos 15 anos e após vencer um concurso do Domingão do Faustão – as outras finalistas, Adriana Esteves e Gabriela Duarte acabaram escaladas para o elenco –, Flávia subia um degrau na carreira. Até então, colecionava testes e campanhas publicitárias, maneira que encontrou de conhecer gente do meio numa época em que as redes sociais não existiam. Filha caçula de uma professora e um comandante de navio petroleiro, Flávia não tinha histórico de artistas na família.
O primeiro insight veio aos 8 anos. “Lembro de um show do Ney Matogrosso em uma lona de circo. Ele trocava de roupa, fazia toda aquela performance, fiquei embasbacada. Quando acabou, falei: ‘Mãe, quero fazer isso quando crescer, o que ele é?’. “Ele não é só um cantor, é um artista.” Ali, soube o que queria ser e entrei para um curso de teatro”, recorda. Nas memórias da infância também estão as viagens que ela e os dois irmãos faziam para acompanhar o pai no navio. Em alto-mar, ele promovia festivais de cinema e saraus de poesia para estimular a tripulação. “Íamos para o Norte, Nordeste, era uma possibilidade de estar com ele e viajar. Não esqueço da vez que atravessamos a Amazônia, aquela grandeza toda.”
Nascida em Arraial do Cabo e criada na capital fluminense, Flávia estudou em colégio militar até participar de ‘Top Model’, fase em que entrou em embate com a rigidez da instituição. “Eu tinha que usar uniforme, mas queria ir de calça rasgada, boina, com o crucifixo da Madonna. Precisava colocar em prática as informações que estava recebendo. Era vista como ovelha negra e acabei sendo expulsa”, conta. Seguindo os conselhos do pai, graduou-se em Direito e levou o curso de comunicação na paralela até o terceiro ano, mas era tão hostilizada pelos colegas da UERJ por ser do elenco da Globo que trancou a matrícula. Aos 22, prestes a começar a advogar, recebeu a ligação que definiria seu futuro. “Estava no centro da cidade, procurando sala, e a Globo me ligou oferecendo um contrato longo, em consequência do sucesso de ‘A Indomada’. A Dorothy foi um divisor de águas, a personagem me desconstruiu, ela era um patinho feio.”
Com uma trajetória longe de polêmicas, Flávia não assume publicamente suas posições políticas. “Justamente por vivermos tempos radicais, não vou me desgastar nas redes, que é um meio saudável para mim, onde me aproximo de artistas, divulgo causas sociais. Mas sempre vou me pronunciar entre amigos, onde sei que vai haver troca”, diz. Mãe de Giulia, 20 anos, fruto do casamento com o diretor Marcos Paulo, e Olívia, 9, do atual marido, o apresentador Otaviano Costa, o único momento em que o sorriso sai de cena para as lágrimas chegarem é quando fala sobre o envolvimento da filha mais velha na disputa pelo inventário do pai, morto em 2012 – a ex-mulher dele, Antonia Fontenelle, reivindica sua parte e o processo corre na Justiça. “Nunca vivi tanta exposição. Para a Giulia é terrível, ela não consegue enterrar o pai. Como se não bastasse a perda, tem a vida exposta, com gente condenando-a sem saber a verdade. Esses dias ela estava chorando, com saudade. E eu não vivi isso, então, falo, ‘amor, não sei o que te dizer’. É muito difícil. Filho a gente devia poder colocar numa caixinha e proteger de todos os males. Era tudo o que queria”, diz. E não demora a voltar a sorrir.
RAIO X
UM LUGAR NO MUNDO Arraial do Cabo (RJ)
UMA MANIA Me estalar
NÃO FALTA NO CAFÉ DA MANHÃ Café preto
ADMIRA EM VOCÊ Ouvi esses dias que sou sensível no trato com as pessoas. É uma verdade!
QUERIA MUDAR… A minha altura, queria ser mais alta.
PAPEL QUE GOSTARIA DE TER FEITO A sequência da Erica Rivas, de ‘Relatos Selvagens’
ATRIZ EM QUEM SE INSPIRA Glenn Close, Charlize Theron, Cate Blanchett, Scarlett Johansson, Renata Sorrah, Marília Pêra
UM LEMA Eu sou porque nós somos
O QUE DÁ MAU HUMOR Fome
EM QUAIS OCASIÕES VOCÊ MENTE? Quando beneficio o outro
MAIOR ARREPENDIMENTO Não ter viajado tanto quando jovem
FRASE QUE USA EM EXCESSO “Graças a Deus”. Sou espiritualizada, tenho princípios do budismo, do esoterismo
HERÓIS NA FICÇÃO? Mulher-Maravilha, a heroína da minha vida
INSTAGRAM PARA SEGUIR @xamanicos @projetocidadesinvisiveis
TALENTO QUE GOSTARIA DE TER Tocar um instrumento
MAIOR MEDO Ter uma velhice ruim, ficar acamada
QUALIDADE QUE ADMIRA EM UMA MULHER Generosidade
TERIA FEITO DIFERENTE Teria sido mais confiante quando mais jovem
QUANDO E ONDE FOI MAIS FELIZ Não sou saudosista, vivo o momento
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Para conferir o ensaio incrível de Flávia Alessandra para a Revista J.P, siga a seta abaixo:
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